Simpósio “Ensino e Treino nos Jogos Desportivos Colectivos”

Simpósio “Ensino e Treino nos Jogos Desportivos Colectivos”

Das salas de aula aos terrenos de jogo há toda uma dinâmica de conhecimento científico e de experiências profissionais que importa “escrutinar” para retirar ilações e aprendizagens. Foi, justamente, essa necessidade de partilha e de discussão que marcou o simpósio “Ensino e Treino nos Jogos Desportivos Colectivos”, um evento promovido pelo CIDESD a 6 de Janeiro, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

«O simpósio foi muito interessante, porque proporcionou a reflexão conjunta sobre diversas questões da maior importância e actualidade como, por exemplo, a simplificação de dados, a especificidade do exercício de treino, a dualidade jogo organizado – jogo livre, a necessidade imperiosa de um desenvolvimento motor associado à criatividade, os factores que concorrem para o desenvolvimento do talento», sintetizou o director do CIDESD, Jaime Sampaio.

Na óptica da investigadora Isabel Gomes, o programa do simpósio reflectiu «as contínuas inquietudes e reflexões dos treinadores, que ao longo dos anos, não cessaram de procurar a melhor forma de ensinar os Jogos Desportivos Colectivos».

A investigadora Sara Santos destacou «as temáticas actuais, diversificadas e complementares que promoveram uma ampla troca de experiências, opiniões e reflexões entre os participantes». Já Raquel Queirós acrescentou que «as matérias devem ser faladas e discutidas, especialmente por profissionais e investigadores que estudam estas áreas, de modo a surgirem novos caminhos e novas soluções para combater problemas e dificuldades que se têm vindo a sentir».

«Foi um evento bastante profícuo, porque apesar de todos coabitarmos na mesma instituição, nem sempre estamos ao corrente do trabalho desenvolvido pelos demais. Assim, estes momentos são ambientes ideais para conhecermos mais detalhadamente o trabalho que cada um está a desenvolver e, acima de tudo, para nos mantermos actualizados acerca das evidências científicas mais recentes», sublinhou o investigador Nuno Mateus.

O simpósio, que foi também transmitido em ambiente online, destacou-se, na opinião do investigador Gil Couto, pela «variedade de temas e de conteúdos». «Este simpósio foi importante no sentido de ouvir quem pensa e interpreta este fenómeno dos Jogos Desportivos Colectivos de forma diferente. Tivemos comunicações que agitaram, que tiveram o poder de nos inquietar, que nos fizeram questionar e, ao mesmo tempo, continuar a procurar respostas e encontrar opções de acção».

Uma opinião corroborada pelo investigador Paulo Vicente João: «houve espaço para debater de uma forma crítica, criativa, tranquila e madura». «Percebeu-se a necessidade de toda a informação não ficar por aqui, mas, pela sua pertinência, pode ser aplicada em mais escolas, clubes, federações, ministério, etc.», reiterou.

Na mesma linha de pensamento, o investigador Luís Vaz considerou que, numa próxima edição, o simpósio deve ser replicado localmente com outros parceiros (clubes, associações desportivas e escolas). «Deste modo, poderemos reforçar a nossa responsabilidade institucional na resposta, divulgação e acompanhamento como entidade formadora e de investigação no âmbito das ciências do desporto, proporcionando novas capacitações para o aparecimento de medidas inovadoras, são urgentes para o dinamismo e retoma da actividade desportiva.»

Da investigação à transferência de conhecimento

«A investigação só tem sentido se tiver aplicação prática no treino e na competição», sustenta Paulo Vicente João, que abriu o simpósio com a comunicação “Global Position Analysis in Elite Female Beach Volleyball. A Positional Analysis during official competition according to player position – research vs pratical application vs next step”.

A investigadora Isabel Gomes abordou o tema “Manipulação de meios de treino”, reconhecendo que o processo «é complexo, mas sem dominar o simples, vai ser difícil evoluir para outros níveis». «Procurei enfatizar o que podemos retirar de cada meio de treino, na articulação que deve existir entre estes e os objectivos inerentes a cada sessão de treino.»

“Interaction among date and place of birth on the road to success” foi o tema abordado pelo investigador Nuno Leite. «O processo de identificação e desenvolvimento do talento é extremamente complexo e está exposto a uma elevada margem de erro e risco. Por outro lado, os treinadores e demais dirigentes desportivos devem atrasar a selecção até idades mais avançadas, onde o efeito do crescimento e da maturação não seja tão discriminante», defendeu.

O último painel da manhã foi dedicado ao desenvolvimento do talento desportivo, com três participações.

“Comportamento sedentário e hábitos de sono em jovens desportistas” foi o primeiro tema a ser abordado. «Os jovens desportistas não são imunes ao crescente aumento de inactividade física (extra-treino) e decréscimo de tempo/qualidade de sono que nos últimos anos se tem verificado na população comum (não desportista). Apesar de ser uma área recente de investigação, dados preliminares apontam para a existência de uma relação entre as anteriores dimensões e a performance desportiva», realçou Nuno Mateus.

Foi em torno da Academia Skills4genius que Raquel Queirós centrou a sua intervenção, dando a conhecer o projecto que está ser desenvolvido em parceria com o Agrupamento de Escolas Diogo Cão e «mostrar, de uma forma geral, parte da intervenção do Programa Skills4genius».

A sessão terminou com Sara Santos a demonstrar as potencialidades do Creative Behaviour Assessment in Team Sports. «O CBATS emergiu como o primeiro instrumento a avaliar o potencial criativo dos jogadores em contexto de jogo reduzido e a considerar indicadores relacionados com o desenvolvimento da criatividade tipo-P (Pessoal), uma componente extremamente importante para promover o comportamento exploratório».

Os investigadores Luís Vaz, Gil Couto e Jaime Sampaio dinamizaram a sessão vespertina. A comunicação “Rugby Union Update: 2020 Special year for Rugby”, proferida por Luís Vaz, procurou «melhorar o conhecimento actual sobre a modalidade e esclarecer de que forma a Covid-19 afectou a modalidade no seu todo».

“Adaptação – modelo vs contexto” foi a tónica dominante da intervenção do investigador Gil Couto. «Não são raras as vezes que no trabalho de um treinador é referida a adaptação ao contexto. É uma forma de tentar operacionalizar, gerir o treino e o jogo. Nada contra. Com a minha intervenção tentei questionar se não será também possível uma adaptação do próprio contexto, neste caso, à intervenção do treinador», resumiu.

Metas para 2021

Face às previsões para o controlo da pandemia causada pelo novo Coronavírus, é expectável que o ano de 2021 seja «certamente difícil para manter actividade de investigação com tarefas de campo». «Por isso, é uma excelente oportunidade para reflectir sobre perguntas e desenhos de investigação e actualizar processos de processamento e visualização de dados», sublinha Jaime Sampaio.

Para o investigador Nuno Leite, as expectativas para o ano que agora inicia passam «pela recuperação das condições que necessitamos para realizar investigação baseada  em programas de treino e que, ao mesmo tempo, o contexto actual possa ter contribuído para uma maior valorização da importância do sistema científico, com mais financiamento nacional e internacional».

«Acredito que seja unânime que todos ambicionamos que os factores inerentes à pandemia não nos impossibilitem de retomar os projectos de investigação que, no decorrer de 2020, tivemos de interromper ou cessar», reforça o doutorando Nuno Mateus. Assim, pretende continuar o seu plano de trabalhos para verificar de que forma é que os comportamentos extra-treino de desportistas e/ou jovens desportistas (hábitos de atividade física, sedentarismo e qualidade de sono) interagem com o seu rendimento em treino e/ou competição.

A investigadora Sara Santos vai focar-se na consolidação dos pressupostos do programa Skills4genius para «demonstrar os seus efeitos em novas competências socioemocionais, assim como, reforçar o seu impacto na criatividade desportiva». «Paralelamente, pretendo refinar o Creative Behaviour Assessment in Team Sports – CBATS, um instrumento desenvolvido durante os meus estudos de doutoramento, no sentido de recolher mais indicadores para além dos técnico-tácticos individuais», acrescenta.

Paulo Vicente João pretende «ajudar as selecções de voleibol, quer seniores masculinas e femininas, quer de indoor (pavilhão), quer de outdoor (voleibol de Praia)». «Quero poder acompanhar os Ciclos Olímpicos das selecções de voleibol junto da Federação Portuguesa de Voleibol (Centros de Alto rendimento), já em preparação para o Campeonato da Europa 2021 (Setembro). Quero continuar a treinar e a desenvolver a formação desde o 1º ciclo (6-10 anos) até ao rendimento. Na utilização da investigação, na sua implicação para a leccionação, no treino (prática) e na competição.»

Já Luís Vaz vai continuar envolvido em dois projectos de investigação. O projecto “Match exposures of rugby players at different ages (Under 12s to seniors), levels (amateur to pro) and within different countries (England, South Africa, New Zealand, Portugal and North America) across Rugby Union” pretende estudar e conhecer os efeitos da exposição dos jogadores de rugby às colisões sofridas durante a competição em diferentes escalões etários e em diferentes níveis competitivos, enquanto que “Technical & tactical determinants of breakdown (pre-,during & post ruck) performance in fifteens rugby” permitirá perceber melhor as determinantes técnicas e tácticos de desempenho do pré, durante e pós acção do ruck.