Projecto Move2UTAD combate comportamentos sedentários

Projecto Move2UTAD combate comportamentos sedentários

O cenário repete-se em diferentes departamentos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro: salas com vários computadores assentes em secretárias e, por detrás dos monitores, estão os funcionários que, dia após dia, tratam do expediente da academia transmontana. A jornada de trabalho compreende oito horas, sendo que a maioria das quais é passada nas cadeiras. Contrariar esse comportamento sedentário no local de trabalho é o principal foco do “Move2UTAD”, o mais recente projecto de intervenção comunitária do CIDESD.

«Estar sentado por períodos prolongados está associado a menor saúde metabólica e a doença cardiovascular. Estes efeitos não são anulados pela quantidade de exercício físico que se possa realizar semanalmente, mesmo que sejam cumpridas as recomendações de um estilo de vida activo (ou seja, 150 minutos por semana de actividade física de intensidade moderada a vigorosa ou 75 minutos por semana de actividade física vigorosa ou uma combinação equivalente de actividade física de intensidade moderada a vigorosa). Com este projecto, pretendemos sensibilizar a população universitária para este “novo” conceito de comportamento sedentário no seu local de trabalho e durante o horário laboral. Por outro lado, queremos promover estratégias de alteração desses comportamentos sedentários, pretendendo que tenham implicações para o estilo de vida fora do local trabalho», refere a coordenadora do projecto, Catarina Abrantes.

Em Portugal, o nível de sedentarismo tem vindo a aumentar, como revela o estudo “Os Portugueses e o Sedentarismo”, da Fundação Portuguesa de Cardiologia: em 2017, 67% da população não praticava pelo menos uma hora e meia de actividade física ao longo da semana. A par do tempo que se passa sentado nos tempos livres (a ver televisão, a jogar consola, a utilizar o computador, etc.), também o tempo sentado no local de trabalho tem aumentado.

«Com a crescente divulgação de que “sentar é o novo cancro” por parte de diversas instituições e suportada por estudos científicos, assim como pela grande relação entre comportamentos sedentários e saúde metabólica, doença cardiovascular e mortalidade, decidimos focar-nos no tempo sentado (e reclinado) que tem sido considerado como um dos principais integrantes do comportamento sedentário», justifica a investigadora do CIDESD.

A Rede de Investigação do Comportamento Sedentário (SBRN) define comportamento sedentário como «qualquer comportamento caracterizado por um dispêndio energético ≤1,5 equivalentes metabólicos (METs), enquanto acordado numa posição sentada, reclinada ou deitada». Por isso, a primeira grande aposta do projecto Move2UTAD passa por consciencializar a população-alvo para o excesso de tempo que passa sentada e, consequentemente, para as alterações que ocorrem ao longo do tempo no seu organismo. «A postura sentada por longos períodos (basta que seja uma hora) é responsável por várias alterações nas estruturas musculoesqueléticas da coluna lombar. O simples facto de se passar de uma postura em pé para a de sentada aumenta em, aproximadamente, 35% a pressão interna no núcleo do disco intervertebral e todas as estruturas (ligamentos, pequenas articulações e nervos) que ficam na parte posterior são alongadas. Além dos problemas lombares, a postura sentada prolongada tende a reduzir a circulação de retorno venoso dos membros inferiores, gerando edema nos pés e tornozelos, tal como desconfortos na região do pescoço e membros superiores», sintetiza Catarina Abrantes.

Portanto, é preciso intervir para «melhorar a consciencialização de uma postura sentada adequada» e implementar mudanças que possam contribuir para diminuir os comportamentos sedentários em contexto laboral, salvaguardando o normal cumprimento das tarefas. «Algumas estratégias envolvem alterações físicas no local de trabalho (ajustar a altura de mesas e cadeiras, o que pode ser dispendioso), outras assentam em alterações pontuais a incluir no horário de trabalho, mas que podem fazer a diferença no final do dia. Por exemplo, fazer pequenos períodos de alongamentos dos braços e das pernas ou alternar períodos de trabalho sentado e em pé», sublinha.

Perto de meia centena de pessoas avaliadas

 

De Maio a Julho, a equipa de investigadores do CIDESD avaliou 48 funcionários não docentes em dois gabinetes disponibilizados nas instalações dos Serviços Comuns da UTAD. Numa primeira fase, foram avaliados os parâmetros de saúde em geral e de aptidão física, tais como glicemia em jejum, pressão arterial, frequência cardíaca, composição corporal, força muscular e flexibilidade. Seguiu-se, depois, uma avaliação postural, com recurso a captação de imagem e análise por fotogrametria computorizada (extraindo das fotografias, medidas de ângulos e distâncias de segmentos corporais relativos à postura em pé).

Posteriormente e em função do interesse e disponibilidade dos participantes, a equipa enquadrou-os nos programas “Move-te” e “Stop Stopping”. No primeiro caso, foi feita uma apresentação audiovisual onde se procurou desdobrar o conceito de comportamentos sedentários e as suas consequências para o organismo, assim como a importância de adoptar um estilo de vida activo e os seus benefícios para a saúde. «Foram também orientados com formas práticas de combater os comportamentos sedentários com actividades que aumentem o metabolismo de repouso como levantarem e sentarem (diversas vezes) a cada hora passada a trabalhar sentados ou trabalhar pequenos períodos em pé no computador», explica a coordenadora.

Nos computadores de trabalho do segundo grupo, foi instalado um programa informático, com o propósito de criar e emitir alertas para que fizessem uma pausa a cada 60 minutos consecutivos sentados. «A chamada pausa (não de descanso!) prolonga-se durante três minutos onde os participantes tinham de realizar alguns  exercícios propostos», acrescenta.

Com base nos dados recolhidos, todos os participantes receberam um relatório personalizado com todos os parâmetros enquadrados em valores de referência, no início e no final da intervenção. Catarina Abrantes adianta que «esta informação deve servir de impulso para uma mudança de comportamentos no local de trabalho e uma maior adesão às actividades que vão ser propostas no âmbito do projecto Move2UTAD».