Motivação autónoma: a chave de ouro para permanecer no ginásio

Motivação autónoma: a chave de ouro para permanecer no ginásio

O que é que, do ponto de vista comportamental, poderá estar na base da adesão das pessoas ao exercício físico? Foi esta a questão que inquietou os investigadores Luís Cid, Diogo Monteiro e João Moutão, autores do trabalho “Adesão à prática e Retenção de Clientes em Ginásios: Factores Preditivos da Manutenção do Comportamento ao Longo do Tempo”.

«Se, hoje em dia, existem evidências científicas inquestionáveis sobre os benefícios da actividade física a diversos níveis, porque é que será que ainda somos tão poucos a praticar exercício físico de forma regular? E por essa razão fomos à procura de respostas, partindo do pressuposto inicial de que este comportamento tem uma base motivacional que o determina», referem.

O abandono-continuidade da prática desportiva em ambiente de ginásio assenta num factor incontornável: a motivação. Por isso, os investigadores procuraram analisar «qual o impacto que o clima motivacional, induzido pelo profissional de exercício, tem na satisfação das necessidades psicológicas básicas e na regulação da motivação dos praticantes e, por sua vez, qual o valor preditivo que têm na retenção dos clientes dos ginásios ao longo do tempo».

Durante um ano, 2180 pessoas (1020 do sexo feminino e 1160 do sexo masculino), entre os 15 e os 60 anos (sendo que a maioria tinha idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos), com prática desportiva há mais de seis meses em ginásios. 

«Para o presente estudo foram seleccionados apenas sujeitos que tinham uma frequência semanal efectiva (verificada através do software de registo de acessos), sem interrupções, quer nos seis meses anteriores à recolha de dados, quer nos seis meses seguintes. Todos tinham, pelo menos, uma visita semanal durante esse período», explicam Luís Cid, Diogo Monteiro e João Moutão.

Analisados os dados, os investigadores do CIDESD confirmaram que o comportamento autodeterminado é «preditor do comportamento futuro no que respeita ao exercício físico». «Aquelas pessoas que vão mais vezes ao ginásio são aquelas que se identificam com a prática desportiva, reconhecendo-a como pessoalmente importante para os seus objectivos (mesmo que não retirem muito prazer com a prática), e/ou se divertem enquanto a realizam, retirando o maior prazer possível», acrescentam.

Contudo, a principal descoberta é o comportamento passado é «o maior preditor do comportamento futuro». «Quando introduzimos esta variável no modelo, passou a ser aquela que evidenciou maior valor preditivo, com 64%», acrescentam.

Este estudo veio ainda reiterar a importância que o profissional de exercício tem no processo, enquanto «elemento que pode criar condições de suporte ao comportamento autodeterminado, através do clima motivacional que induz na relação com os praticantes». «Se o profissional de exercício criar um clima positivo, orientado para a tarefa e para o desenvolvimento pessoal, em detrimento do resultado e da comparação social, podemos esperar um impacto positivo nos praticantes», defendem.

  

Implicações para os profissionais do fitness

De acordo com os dados disponíveis, a cada 100 pessoas  que ingressam num ginásio, a probabilidade é que metade abandone a prática desportiva ao fim de meio ano. Por isso, é crucial que os gestores do ginásio tenham em conta as determinantes motivacionais para que volvido «o período crítico do abandono (6 meses)», as pessoas se mantenham envolvidas na prática.

«As principais mais-valias desta investigação para os agentes económicos da indústria do Fitness são simples: mais praticantes, mais impacto financeiro. De facto, este modelo pode ser aplicado num ginásio para identificar quem poderá estar em risco de abandono, quer seja através da avaliação do seu perfil motivacional, quer seja pela análise da sua relação com a actividade física», realçam.

Os investigadores Luís Cid, Diogo Monteiro e João Moutão consideram ainda que as técnicas de modificação comportamental sustentadas nos pressupostos das abordagens motivacionais, que sustentem estratégias específicas de satisfação das necessidades psicológicas básicas parecem, à data, corresponder «à melhor forma de produzir e ajustar regulações motivacionais percursoras do bem-estar, saúde e adesão continuada».

«Verifica-se assim a obrigatoriedade dos profissionais ligados à gestão de espaços desportivos (como os ginásios) de promoverem e incentivarem a utilização destas técnicas por parte dos seus profissionais, facilitando a sua reciclagem de conhecimento e a aquisição de competências que permitam a identificação destas variáveis e respectivo ajuste nas suas formas de intervenção», concluem.

A investigação «Adesão à prática e Retenção de Clientes em Ginásios: Factores Preditivos da Manutenção do Comportamento ao Longo do Tempo» foi a vencedora da categoria “Economia, Direito e Gestão do Desporto” dos Prémios Ciências do Desporto 2018.