04 Nov Investigadores envolvidos em trabalho sobre o risco de contágio de COVID-19 no futebol
O futebol não é uma modalidade de alto risco de exposição respiratória para a transmissão da COVID-19, corroborando a classificação avançada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), na Orientação 036/2020, de modalidade de “médio risco”. Esta é a principal conclusão do trabalho “Can Tracking Data Help in Assessing Interpersonal Contact Exposure in Team Sports during the COVID-19 Pandemic?”, da autoria dos investigadores Bruno Travassos, Bruno Gonçalves e Pedro Figueiredo.
«Neste estudo, que procurou analisar a aplicabilidade da utilização dos dados de tracking recolhidos durante os jogos de futebol na avaliação do contacto interpessoal entre indivíduos, foram calculadas duas medidas de exposição respiratória. Foram analisados os posicionamentos e movimentações dos jogadores e árbitros durante um jogo de futebol que terminou empatado a três golos, através de um sistema com câmaras super-HD e tecnologia de processamento de imagem patenteada (utilizada em campeonatos como a Premier League, Bundesliga, La Liga, Eredivisie, Liga dos Campeões e jogos internacionais da UEFA e da FIFA)», explicam.
A primeira medida de exposição respiratória, calculada para cada indivíduo, foi baseada no tempo passado a uma distância inferior a dois metros em relação aos outros indivíduos. Já a segunda medida foi calculada, adicionando à primeira medida, o tempo de exposição à “nuvem” de gotículas respiratórias formada pelo movimento dos outros indivíduos. «Os resultados do estudo apontam que esta metodologia de análise poderá ser utilizada para avaliar a exposição respiratória decorrente do contacto interpessoal e consequente estratificação do risco da prática e competição de diferentes modalidades desportivas ou actividades físicas, contribuindo para o planeamento de diferentes actividades no contexto da pandemia de COVID-19», sublinham.
O investigador Bruno Gonçalves considera que os resultados deste estudo revelam que «o futebol não parece ser uma actividade de alto risco para a transmissão do SARS-CoV-2». «O método utilizado é de aplicação simples para todos os clubes que tenham esta tecnologia de rastreamento ao serviço dos praticantes, quer em processo de treino, quer em processo de jogo. Portanto, ter um posicionamento instantâneo de todos os intervenientes durante a prática poderá ajudar a tomar decisões com base em informação mais assertiva. Por isso, esta metodologia pode ser utilizada daqui para a frente não só em competição, mas também nas sessões de treino, na eventualidade de haver necessidade de rastrear os contactos de um caso suspeito ou positivo de COVID-19», acrescenta.
Já Bruno Travassos refere que o recurso a dados desta natureza permitem «uma clarificação sobre os riscos da prática desportiva, demonstrando que o verdadeiro risco de contágio não está associado à dinâmica do jogo». «Por sua vez, os treinadores deverão assegurar o distanciamento social sobretudo em momentos de início de treino, instrução, pausas entre exercícios e parte final do treino, de modo a manter os tempos de exposição ao contágio em valores reduzidos», adverte.
Publicado na revista Sensors, o estudo foi desenvolvido com uma equipa alargada, constituída por investigadores do Instituto Universitário da Maia (ISMAI), da Universidade da Beira Interior (UBI), da Universidade de Évora (UE), da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e da Universidade do Porto (UP).