Confinamento reabre portas ao mundo virtual

Confinamento reabre portas ao mundo virtual

Em 2021, Portugal e o Mundo voltam ao confinamento obrigatório como medida imperiosa para controlar a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2. A maioria dos setores de atividade tem adaptado as suas dinâmicas para minimizar as consequências desta medida restritiva, por isso, olhamos para dentro de portas para perceber o que tem acontecido no CIDESD.

«O período de confinamento veio perturbar muitos dos estudos experimentais em curso, uma vez que decorriam em ginásios/health clubs ou na UBI. Como estas instalações foram encerradas, as recolhas de dados foram interrompidas e, por isso, tivemos de reformular alguns objetivos da investigação, procurando outras metodologias de intervenção e análise», explica a investigadora Dulce Esteves. Muitas das recolhas estavam associadas a trabalhos de mestrado e  de doutoramento, pelo que foi necessário redefinir alguns planos de trabalhos, «o que nem sempre foi fácil de conciliar com os prazos que os alunos têm».

Por outro lado, procurou-se «consolidar as bases teóricas da investigação em curso», permitindo mais leitura e reflexão sobre os resultados científicos que têm sido publicados. «Além disso, foi importante continuar com os programas em curso, via on-line, como o Mama_Move, por exemplo. Isso exigiu novo planeamento,  motivação dos participantes, nova programação de atividades, etc.», explica.

Também a investigadora Lara Carneiro reconhece que algumas metodologias tiveram de ser repensadas: «os tempos de colheita de dados foram aumentados, os métodos de colheita à distância foram implementados, através do uso de plataformas digitais, reformularam-se protocolos com diminuição do tamanho da amostra e alteraram-se horários de trabalho para diminuir a presença física dos investigadores em espaços comuns».

Mesmo em tempo de pandemia, o Laboratório de Biomecânica, Composição Corporal e Saúde (LaB2Health), utilizado pela investigadora Helena Moreira, adaptou-se para continuar a fazer avaliações, salvaguardando medidas sanitárias específicas. Contudo, já a antecipar um possível cenário de confinamento, as avaliações arrancaram em outubro de 2020 para assegurar o maior número de elementos da amostra. «Conseguimos, até início de janeiro, avaliar 225 pessoas de ambos os géneros com 18 ou mais anos de idade. Isto permite-nos agora trabalhar os dados, mesmo estando confinados. Este período de confinamento também tem sido aproveitado para escrever algumas publicações e desenvolvermos/submetermos alguns projetos de investigação», explica a investigadora do CIDESD.

As dificuldades prenderam-se, fundamentalmente, com a adaptação a novas formas de trabalho à distância. «Mas rapidamente nos adaptámos a elas e, certamente, alguma irão continuar, como por exemplo algumas reuniões de projeto realizadas fora de Portugal», acrescenta Helena Moreira.

Potenciar o trabalho colaborativo 

A investigadora Lara Carneiro não tem dúvidas de que a pandemia criou «uma janela de oportunidades para manter uma mentalidade colaborativa, assente na partilha de experiências, a força motriz para o avanço do conhecimento». «Foram realizadas reuniões de discussão de estudos e disseminação de resultados à distância, que culminaram na escrita de artigos científicos e de um evento internacional, uma task force conjunta entre investigadores da Noruega, Brasil e Portugal realizada em formato online; investi em formação online na minha área específica; participei em júris internacionais via plataformas digitais, algo que não tinha acontecido no período pré-COVID-19; fomentei e consolidei contactos através da participação em congressos internacionais e, ainda, estreitei relações já existentes que culminaram na candidatura a projetos», acrescenta.

É, também, com uma visão pragmática que a investigadora Helena Moreira encara estes novos tempos: «tudo passa por uma boa organização do tempo que dispomos e pela definição clara das metas que pretendemos atingir». «Como acabamos por trabalhar mais, porque não temos necessidade de nos deslocarmos tantas vezes, é importante não esquecer o tempo reservado a nós próprios e à nossa família, fundamental ao nosso equilíbrio e que nos permite trabalhar com mais qualidade», ressalva.

Já a investigadora Maria Dulce Esteves reconhece que o confinamento tem sido um desafio de conciliação entre a vida familiar e as exigências académicas. «A preparação de novos conteúdos para as aulas que passaram a ser on-line foi muito trabalhoso, paralelamente, houve a necessidade de reorganizar toda a estrutura do Departamento de Ciências do Desporto/UBI, do qual sou a atual presidente.»

Comunicação à distância de um clique

Durante estes primeiros meses, a disseminação dos resultados científicos tem acontecido para uma plateia global, já que muitos eventos foram adiados ou migraram para o formato online.

«Várias organizações de reuniões científicas internacionais, com submissão de trabalhos aceites, tomaram a decisão de cancelar as edições do ano 2020. Inicialmente, vi as oportunidades de disseminação da minha atividade científica reduzidas, o que causou algum desapontamento. Nas reuniões científicas que optaram por adaptar o evento ao contexto online, vivenciei experiências distintas, como participante, moderadora de sessões e organizadora», conta a investigadora Mariana Amaral da Cunha.

Depois de lidar com as dificuldades inerentes à familiarização com plataformas de videoconferência, a investigadora do CIDESD sublinha a participação de públicos diferentes. «Ao optarem por abrir as reuniões de disseminação científica a um público mais alargado, muitos dos eventos viram as suas comunicações partilhadas não só com investigadores e professores universitários, mas também com os ‘practictioners’ (por exemplo, professores da escola do ensino básico e secundário), o que, para mim, foi muito positivo», ressalva.

A facilidade e conforto no acesso aos eventos a qualquer momento e em qualquer lugar, o aumento gradual do número de eventos gratuitos e, consequentemente, o alcance de um público mais alargado são vantagens indissociáveis do mundo virtual. Contudo, «o dispêndio de tempo extra para familiarização com o manuseamento das plataformas digitais (uma diferente para cada evento), a resolução de problemas técnicos momentâneos variados, a promoção de uma discussão dos trabalhos apresentados semelhante ao regime presencial e as dificuldades acrescidas no ‘networking’» são as desvantagens apontadas pela investigadora do CIDESD.

Depois destas experiências recentes, Mariana Amaral da Cunha não tem dúvidas de que ambos os ambientes – presencial e remoto – possam vir a ser usados em simultâneo num período pós-pandemia. «Pese embora as oportunidades de disseminação das nossas pesquisas tenham aumentado (por exemplo, com o aparecimento de múltiplos webinars, etc.), os temas de discussão são essencialmente os mesmos de um contexto pré-pandemia. Com a pandemia ganharam maior visibilidade e intensidade. Não sinto que os eventos tenham conseguido, para já, criar oportunidades de discussão dos reais problemas», conclui.