06 Oct CIDESD galardoado nos Prémios Ciências do Desporto 2019
Trabalhos produzidos por investigadores do CIDESD conquistaram um primeiro prémio e duas menções honrosas na 5.ª edição dos “Prémios Ciências do Desporto”, uma iniciativa do Comité Olímpico de Portugal (COP) e da Fundação Millennium BCP.
«Os prémios COP são uma excelente iniciativa para reconhecer a crescente importância da investigação científica em Ciências do Desporto. Apesar de Portugal evidenciar níveis de investimento muito baixos na ciência, é certo que os níveis de produtividade são consideráveis e muito reconhecidos internacionalmente. Sem dúvida alguma que, face ao patamar de qualidade em que nos encontramos e face à capacidade de contribuir para resolver os desafios societais prementes, já se justificaria outro tipo de investimento central», considera o director do CIDESD, Jaime Sampaio.
“Desporto, a centelha do pensamento e comportamento criativo”, da autoria dos investigadores Sara Santos, Diogo Coutinho, Nuno Leite e Jaime Sampaio, foi o projecto vencedor da categoria de “Psicologia e Pedagogia do Desporto”.
«Foi com enorme entusiasmo e satisfação que recebemos este prestigiado prémio. Esta distinção representa o reconhecimento do nosso trabalho, que muito nos apraz e motiva a continuar com a sua disseminação junto da comunidade educativa», refere a investigadora Sara Santos.
O trabalho agora premiado procurou avaliar os efeitos do programa desportivo Skills4Genius na prestação motora, no pensamento criativo e no comportamento criativo em jogo de crianças a frequentar o 1º ciclo de escolaridade.
«Procurámos perceber se um programa desportivo, consubstanciado em abordagens construtivistas, seria capaz de mitigar ou inverter o decréscimo acentuado do pensamento criativo que se observa, com particular preocupação, a partir dos 6 anos de idade», sublinha a investigadora do CIDESD.
Os resultados obtidos mostram que o programa reverteu a tendência de declínio do pensamento criativo e até promoveu melhorias expressivas na criatividade cognitiva e motora.
«Relativamente à criatividade cognitiva, as crianças aumentaram a sua capacidade de produzir um maior número de soluções, sendo estas mais elaboradas, invulgares e originais. O Skills4Genius permitiu, também, incrementar a sua predisposição para explorar comportamentos técnico tácticos inovadores em contexto de jogos reduzidos, ou seja, as crianças procuravam criar constantemente novas acções técnicas (passes, fintas e remates), tornando-se mais imprevisíveis e adaptativas face ao envolvimento que as rodeia», explica.
Na visão de Sara Santos, estes resultados reforçam uma interdependência entre a criatividade cognitiva e motora, favorecendo a visão da criatividade como um domínio transversal a vários contextos.
«Não obstante, surtiu efeitos consideráveis na prestação motora das crianças, mais especificamente, na sua agilidade, velocidade de aceleração máxima. Em suma, estes resultados enaltecem a importância de estimular o pensamento criativo alicerçado a programas de enriquecimento desportivo, permitindo assim desenvolver crianças com mentes criativas que exploram diversas possibilidades de acção em jogo, estando assim, mais predispostas a pensar e a realizar acções inovadoras», conclui.
Durante cinco meses, o programa Skills4Genius decorreu em várias escolas do 1.º ciclo do concelho de São João da Madeira e de Vila Real, envolvendo mais de 160 crianças.
Na senda do futuro educativo
O sistema educativo do século XXI deverá preparar as crianças e os jovens para os novos desafios e, assim, desenvolver competências socioemocionais como a criatividade. Sendo esta uma das principais recomendações do relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) “Fostering Student’s Creativity and Critical Thinking – what it means in school”, o Skills4Genius tem perseguido esse desígnio.
«Normalmente, no contexto educativo, os programas mais utilizados para promover o pensamento criativo são suportados em abordagens que possuem um enfoque no pensamento futurista e resolução de problemas, como é o caso da metodologia internacionalmente reconhecida Future Problem Solving International (FPSI). Não obstante, nunca foram implementados programas que fizessem interagir os factores anteriormente mencionados com a prática desportiva, que privilegia o movimento como forma de expressão criativa», contextualiza a investigadora.
É por isso que o programa Skills4Genius tem colhido o reconhecimento de entidades como a Creative Education Foundation, a Fundação Calouste Gulbenkian e, agora, o Comité Olímpico de Portugal.
«Este estudo fornece um importante aporte para a pedagogia do desporto, reforçando que o contexto desportivo, quando mediado por determinadas condições pedagógicas, pode ser considerado um difusor ideal para potenciar a criatividade. O Skills4Genius poderá emergir como uma estratégia pedagógica viável, que poderá ser facilmente difundida nas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) de Actividade Física e Desportiva, para potenciar o comportamento criativo das crianças», considera Sara Santos.
Graças ao apoio do CIDESD e da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito das Academias Gulbenkian Conhecimento, a metodologia Skills4Genius chegará a 2000 crianças e será ministrada formação a cerca de 80 professores para «desencadear uma mudança progressiva no paradigma de ensino».
Distinções que honram a produção científica do CIDESD
Também os investigadores Filipe Fernandes Rodrigues, Henrique Pereira Neiva, Luís Cid e Diogo Monteiro viram o seu projecto “Diz-me o que fizeste e dir-te-ei o que farás: análise longitudinal da prática de exercício físico em ginásios e health clubs” receber uma menção honrosa na categoria de “Psicologia e Pedagogia do Desporto”.
«Ficámos positivamente surpreendidos com o resultado. Estamos agradecidos ao Comité Olímpico de Portugal por ter seleccionado o nosso trabalho como merecedor de uma menção honrosa, incentivando-nos a continuar a investigar nesta área que é a análise comportamental e motivacional para a prática de exercício físico», revelam.
Os investigadores referem ainda que esta menção é também «o reconhecimento e a valorização do trabalho que é realizado nas diversas instituições académicas e centros de investigação a nível nacional, demonstrando claramente que a partilha de conhecimento entre investigadores é uma mais-valia para a qualidade de conhecimento disseminado junto dos pares».
Desenvolvido ao longo de dois anos e meio, este trabalho de investigação procurou analisar de forma objectiva a taxa de atrito de praticantes de actividades fitness em ginásios e health clubs.
«Os resultados mostram claramente o paradigma actual em que vivemos: as pessoas sabem que exercício físico faz bem, no entanto, são poucas as que o fazem e as que o fazem abandonam nos primeiros meses. Assim, torna-se fundamental que sejam criadas políticas de retenção tendo como base resultados de estudos empíricos realizados nesta temática, de forma a que os profissionais a actuarem neste sector estejam munidos de conhecimento robusto no que diz respeito à promoção de exercício físico perante os utilizadores dos seus espaços», consideram.
Na última edição dos Prémios Ciências do Desporto, os investigadores Luís Cid e Diogo Monteiro já tinham arrecadado o primeiro lugar na categoria “Economia, Direito e Gestão do Desporto”.
A investigação sobre a “Aplicabilidade e segurança de um programa de walking football para indivíduos com diabetes tipo 2″, na qual participa o investigador Pedro Figueiredo, foi distinguida com uma menção honrosa na categoria “Medicina do Desporto”, nesta 5ª edição da iniciativa.
«Estamos honrados pela menção atribuída ao nosso trabalho. Esta menção reforça a possibilidade de aplicação de soluções inovadoras para questões largamente debatidas, como é a inactividade física, particularmente na população com diabetes tipo 2», afirma o investigador do CIDESD.
O projecto SWEET-Football foi desenhado com o objectivo de, numa primeira fase, testar a aplicabilidade e a segurança de uma variante do futebol recreativo – o walking football – em pessoas de meia-idade e idosos com diabetes tipo 2. Os resultados da implementação deste programa ao longo de três meses revelaram «elevados níveis de adesão e divertimento nos participantes, baixa incidência de eventos adversos agudos, bem como benefícios na glicemia capilar e na pressão arterial». «Assim, os resultados positivos da aplicação deste programa realçam a necessidade de uma contínua colaboração entre instituições para que possam ser replicados em larga escala», acrescenta Pedro Figueiredo.
Atribuídos anualmente pelo COP e pela Fundação Millennium BCP, os Prémios Ciências do Desporto foram criados com o objectivo de promover e distinguir a melhor investigação desenvolvida em Portugal na área das ciências do Desporto. Já estão abertas as candidaturas para a próxima edição dos Prémios Ciências do Desporto. Assim, até 30 de abril de 2021, os interessados podem enviar o seu trabalho de investigação nas áreas de Fisiologia e Biomecânica do Desporto; Economia, Direito e Gestão do Desporto; e História e Sociologia do Desporto.